As distorções de preços de combustíveis e da cotação do dólar estão provocando a dolarização da economia brasileira, mas o trabalhador não tem seu salário fixado na moeda americana.
O Brasil se porta como um grande dependente da economia chinesa, o maior mercado para os produtos brasileiros consumindo 21,5% das exportações. Os EUA vêm em segundo lugar com 11,6%, praticamente metade.
O Brasil exporta majoritariamente produtos agrícolas, as chamadas commodities, que têm preço internacional fixado em bolsas de valores.
Na via inversa, o Brasil importa produtos acabados, cujos preços são determinados pelos fabricantes e não pela comunidade internacional.
A Petrobras tem uma política de preços baseada em cotações internacionais de petróleo, gás e derivados (gasolina, Diesel, etc). Ainda que seus custos de produção sejam majoritariamente atrelados ao real (energia, folha de pagamento, manutenção, água, etc), seus preços estão cotados em dólar.
A ancoragem de preços de matéria-primas nas cotações internacionais em dólar reverbera por toda a cadeia de produção até chegar ao consumidor final. No final e ao cabo, o brasileiro está pagando gasolina em dólar, seguindo preço internacional.
Em paralelo, a indústria de açúcar e álcool passou a fixar o preço do Etanol próximo a 70% do valor da gasolina na bomba, a já “famosa” percentagem abaixo da qual o Etanol se torna mais econômico para veículos flex.
Esta fixação de preço do Etanol não segue qualquer ordem econômica tradicional. É apenas uma exploração feroz de um mercado com altíssima concentração nas mãos de poucas empresas.
A alta de preços das commodities é um fenômeno dos últimos dez anos. A soja, por exemplo, manteve-se numa cotação entre US$ 5 e US$ 10 dólares (por bushel, ou 27kg) de 1975 até 2007. A partir deste ano, o grão nunca mais ficou abaixo dos US$ 7 dólares e, após a pandemia, está cotado a US$ 16 doláres, ou seja, 60% acima do preço mais alto verificado em décadas anteriores.
Soja e milho são grãos imprescindíveis para a produção de carnes (aves e suínos) e, portanto, o aumento nos preços destes grãos vai direto para o preço de carnes e, finalmente, para a taxa de inflação.
Como o Brasil é grande exportador destes grãos, o produtor de aves e suínos brasileiro é forçado a pagar preço internacional de suas matérias-primas principais.
O Dólar
O Dólar teve forte valorização frente ao Real durante a pandemia. Cotado por volta de R$ 3,70 em 2019, chegou a bater os R$ 6,00 durante a pandemia (62% de valorização) e agora se mantém por volta de R$ 5,13, ou seja, 43% acima do valor de equilíbrio antes da pandemia.
Embora o dólar alto seja benéfico para as exportações, ele é problemático para as importações e, principalmente, para o mercado interno, gerando a inflação explosiva em alimentos e combustíveis no Brasil.
A postura do governo brasileiro, de se deixar ser colocado de joelhos para a China, deixa o povo do país sem esperanças de recuperar seu poder de compra tão cedo.
As empresas brasileiras sofrem com aumento de custos de tudo o que há relacionado – de uma forma ou de outro – ao dólar enquanto cobra seus produtos e serviços em reais.
O trabalhador recebe em reais e paga seu custo de vida praticamente todo em dólar. Alimento, transporte, combustíveis, energia, água acabam tendo influência do dólar e das cotações internacionais de commodities.
A economia brasileira está dolarizada, o custo de vida está dolarizado, mas o povo não teve seu salário indexado ao dólar.
O vazio de ideias do governo federal, dos congressistas, governadores, deputados, prefeitos e vereadores é o que há de mais alarmante na política brasileira da atualidade.