Em seu twitter, Olavo de Carvalho questiona-se sobre o combatente que adia o confronto como estratégia de vitória futura. Bolsonaro se utiliza da omissão por estratégia ou é estratégico enquanto omisso?
Olavo de Carvalho é das poucas pessoas capazes de comunicar-se em diversos níveis de significado simultaneamente. Pode falar de algo genérico, dentro do qual testamos casos específicos, pode falar de algo específico, do qual extraímos ideias genéricas.
Olavo estará ao vivo nesta segunda-feira, 20/12 às 20h no ConservaTalk.
Olavo se utiliza de palavras com extrema precisão. Quando usa um substantivo ou adjetivo, podemos ter certeza de que pensou em dezenas de sinônimos possíveis e escolheu palavras com maior capacidade de ajudá-lo a se expressar.
Sendo assim, vou dar a minha dissecada neste tweet do professor:
O combatente
Olavo fala genericamente sobre um combatente que escolhe adiar um confronto ao invés de atacar seu inimigo.
Se há apenas as duas opções – de lutar agora ou adiar a luta – então o conflito é inevitável. A questão passa a ser sobre o cálculo de forças que o combatente faz. Outra premissa de fundo é que o combatente tem a percepção de que não reúne forças suficientes no momento atual para atacar seu inimigo.
Sendo assim, escolhe ganhar tempo para reunir mais forças, muito embora permita que seu inimigo ganhe exatamente a mesma quantidade de tempo para se fortalecer.
Vamos aplicar este pensamento do professor ao caso do presidente Bolsonaro, de formação militar (um combatente), cuja batalha contra um sistema de pessoas, coisas e práticas parece durar indefinidamente.
Omissão
Bolsonaro declarou recentemente que nomeará mais dois ministros do STF em 2023, caso reeleito. Destacou a importância da suprema corte e que “podemos mudar o Brasil” a partir disso.
Nestas poucas palavras, fica claro que Bolsonaro optou por adiar um inevitável confronto com o Supremo Tribunal Federal afim de reunir forças – isto é, mais votos dentro do STF – para então atacar seus inimigos.
Com a ideia de mudar o Brasil, este enfrentamento se daria não apenas para aniquilar seus inimigos no STF como também fora dele.
Na medida em que Bolsonaro acredita que estará reunindo forças com mais dois ministros, seus inimigos também têm até 2023 para se fortalecerem.
O fortalecimento de seus inimigos, entretanto, se dá na esfera da realidade, com imposições de leis, sentenças, prisões e novas jurisprudências, enquanto o Bolsonaro só pode atuar no campo das ideias. Ele tem uma percepção etérea de que apenas mais dois ministros são tudo do que ele necessita para mudar o Brasil.
Na esfera da realidade, Bolsonaro tem para si uma eleição a ser ganha daqui a um ano (esta batalha não pode ser adiada).
Na prática pouco fará de concreto até 2023 para impor um mínimo de resistência aos avanços do STF e dos agentes de subversão nacionais e estrangeiros que atuam no Brasil com extrema violência e velocidade.
Notem que Olavo se utiliza do termo omissão para questionar esta estratégia de adiar o confronto.
Esta percepção de Bolsonaro de que é incapaz de ações imediatas é que nos remete à palavra omissão.
A omissão trazida à realidade não deve ser entendida apenas como o ato de nada fazer. Ao se omitir, Bolsonaro está permitindo que muito seja feito contra ele, através de imposições que atingem, tanto seus defensores mais ferrenhos, como todo o resto da sociedade, colocada como refém de toda esta luta de poder.
Resta a pergunta, então, sobre como seus inimigos estarão posicionados quando dois novos ministros da suprema corte entrarem em cena?
Quais prejuízos a sociedade terá absorvido até o momento do conflito?
Omissão e danos colaterais
O cálculo de força versus “timming” para se travar uma batalha deve levar em consideração o cálculo dos danos colaterais gerados no processo. Há danos reversíveis e irreversíveis.
A sociedade irá arcar sozinha com todo o dano colateral produzido, seja em uma batalha travada hoje, seja daqui a dois anos.
O cálculo então está no montante de danos colaterais ao se travar o conflito hoje, o montante ao se travar o conflito daqui a dois anos dois anos e quantos serão produzidos neste interim.
Do lado de quem sofrerá os danos (a sociedade), a preferência é por escolher a opção que gere o menor impacto.
Mas do lado de quem trava batalhas, o cálculo do dano colateral é tomado sob outra perspectiva. O objetivo é ganhar, não minimizar danos. O nível de dano colateral poderá ser o maior possível desde que calculadamente “aceitável”.
O aceitável para os combatentes pode não ser aceitável para o conjunto da sociedade.
Para vencer esta batalha, os combatentes não se importarão com quanto de prejuízo a sociedade tomará desde que esteja abaixo de um determinado nível crítico, provavelmente algo próximo a um crime humanitário manifestamente direto e claro.
Bolsonaro não tomou o poder a que seu cargo eletivo lhe dá acesso. Curvou-se diante do STF em momentos críticos demonstrando fraqueza e fortaleceu a corte a ponto da cristalização do Ativismo Judicial do Brasil.
Hoje, o STF atua legislando, executando, investigando e julgando tudo quanto há na vida brasileira, escanteando até o próprio congresso.
Em 2016, o nefasto Renan Calheiros simplesmente deu as costas para a ordem do STF de destituí-lo da presidência do Senado. O enfrentamento deu-se na esfera da realidade.
Renan consegue atuar como um prestigiado relator de Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado Federal mesmo tendo 17 processos no próprio STF.
O exercício do poder está na arte de fazer pessoas agirem como você quer.
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César Cremonesi
