No Brasil, eleição é tratada como uma partida esportiva, em que se ganha ou se perde e tudo se resolve aí mesmo, depois que todos vão a seus vestiários.
Confundimos continuadamente política com eleição. Política não é eleição. Eleição é apenas uma das coisas – das muitas – que existem dentro da política e nem está entre as mil principais.
Sendo assim, vitórias ou derrotas eleitorais não dizem nada sobre as respectivas vitórias ou derrotas políticas. É possível se perder uma eleição e ganhar politicamente e vice-versa, é sim possível se vencer uma eleição e ter uma derrota política.
Guilherme Boulos perdeu a eleição para prefeito de São Paulo em 2020, mas amealhou por volta de dois milhões de votos.
Boulos, agora, disputa para deputado federal. Caso repita sua votação (apenas da cidade de São Paulo), fará o seu assento e garantirá outros 5 para o PSOL no Congresso Nacional.
Se trabalhar um pouco e fizer 3 milhões de votos, então subirão ele e outros 9 PSOListas para lá. Então Boulos ganhou politicamente com sua própria derrota de 2020.
O ganho político de Boulos, enfatizando, não é o ganho de votos e sim o ganho de capital político que já teve e poderá aumentar nas eleições de 2022. Três, quatro ou cinco deputados federais podem e farão muito no congresso em favor das execráveis agendas da esquerda marxista (misturada com progressismo, invasão de propriedade e corrupção).
Do lado oposto do espectro, Bolsonaro despejou as pautas de 2018 no ralo, junto com seus apoiadores de primeira hora de 2017-2018 e agora se vê articulando apoios inimagináveis num passado próximo: de Datena a Romário. De Kassab a Witzel.
A aparente bagunça nas articulações de Bolsonaro deixa aparente a derrota política que se avizinha juntamente com sua possível vitória eleitoral.
Mesmo que ganhe as eleições, Bolsonaro terá de entregar as contrapartidas dos apoios que teve de fazer. Isso é feito, normalmente, com cadeiras em ministérios, cargos em departamentos importantes (do ponto de vista financeiro) e sanção de leis que virão de lá do congresso que o terá eleito.
Teremos então mais quatro complicadíssimos anos pela frente, digo nós que lutamos pelo resgate das liberdades que nos foram tiradas em 2020, pela moralização da política, pela diminuição do estado e pelas reformas estruturantes.
